O BOLACHA
Sempre quis ser um escritor renomado, mas nunca conseguia publicar em lugar nenhum.
Até ai tudo bem. só que, chegava nas festas, sempre tinha um bolinho de gente pra falar q eu era o melhor escritor de sao paulo, eu brigava falando
que nao era de sao paulo, mas ninguem me ouvia, simplesmente me ignoravam e falavam coisas como "o novo renalt sedan veio com um recall".
Toda semana eu me perguntava o porque de ter me mudado pra sao paulo. Era certo que rolava mais grana aqui do que "lá", só que faltava conexao...
Mas voltando ao papo de ser escritor. Um dia depois de muito escrever pras paredes, um web jornal me enviou um email:
"Ola Senhor A...n, somos do WebJornal O BOLACHA, gostamos muito dos seus contos, gostariamos que escrevesse para nós em uma coluna semanal.."
Fiquei muito empolgado com esse email, pensando em quantas pessoas me leriam, que finalmente minha hora havia chegado.
Nisso comecei a revisar minhas coisas; lia um conto antigo aqui, escrevia um novo ali, mas nada me parecia bom. Era tudo parecido, fraco, sem profundidade.
Depois de muito cavar, achei um conto antigo, se chamava Sobrancelhas, nao era ruim, nem bom, era apenas um conto.
A ideia desse conto veio das voltas por sao paulo a noite e do nada vi que tinha
um povo de cabeça raspada, sobrancelha raspada, ouvindo umas musicas estranhas, e eu como um bom mineiro
do interior, fiquei chocado com aquilo. Dai eles me pegavam e me raspavam todo tambem, eu virava um deles, e nao conseguia arrumar emprego e etc, tudo invencao da minha cabecinha,
claro, mas tinha um ar de veracidade naquilo tudo. Foi publicado.
O povo do Jornal e seus leitores piraram.
e nos comentarios, se lia "sempre achei ele um genio", "melhor que Guimaraes Rosa", "o Borges Brasileiro".
Nunca li tanta besteira.
Comecei a receber Dms de admiradores, todos me amavam, queriam sair comigo...
Só sei que depois disso entrei em parafusos, achando que nao conseguiria superar minha estreia.
Dito e feito, mandei outro conto, falando sobre cachoeiras e homem das cavernas, publicaram. foi um fiasco.
nos comentarios dizia "escritor de um conto só", "nunca o achei grande coisa"...dai pra pior.
A galera do Bolacha foi até legal comigo, falando que era assim mesmo, que eu tinha um talento nato, e aguardavam pelo proximo conto.
Nisso entrei em mais parafuso ainda. Nao conseguia escrever, e quando escrevia, lia, achava ruim, apagava tudo, escrevia mais, achava pior.
Resolvi sair pra esfriar a cabeça.
Passei na casa do Tadeu, amigo maluco que eu tinha feito no inicio quando cheguei aqui.
papo vai papo vem:
- voce anda sempre sem grana.
- sim sim, e olha que eu nem gasto muito.
- gasta sim, com vinho, e barato ainda por cima.
- parei com vinho, agora to na cerveja.
- da na mesma, é gasto.
- Tudo é gasto, até morrer gasta.
- isso é culpa de quem?
- culpa do seu pai, por nao ser milionario.
- é vdd.
- Jesus nao era milionario.
- é, mas mataram ele rapidinho.
- é verdade.
resolvemos sair pra ver o mundo, sao paulo, a cidade que nunca dorme.
- e seus contos la pro BOLACHA?
- Ah cara, parei de escrever, eu sou uma farsa.
- Voce se abala muito facil.
- Sou fragil.
- Artista.
- Tambem.
- e aquele conto la que voce falava dos papagaios que faziam trabalhos como pombo correio, esse era muito engraçado.
- nao consegui achar um fim bom pra ele.
- e aquele do monge que tomou LSD achando q era agua?
- Esse é meio sem pé nem cabeça.
- Ta muito critico hoje heim.
- Tava pensando em fazer outra facu.
- Faz de design. Webdesign.
- boa ideia, vou fazer isso.
Voltamos cada um pra suas respectivas casas. No dia seguinte desisti e ser web Design e voltei a tentar terminar o conto dos Papagaios. Ficou até bom.
Enviei pro BOLACHA. Nao quis nem saber o que acharam. Nao li comentarios. Exclui instagram.
Diz o pessoal do Bolacha que eu havia sido um sucesso novamente, e que agora eu estava solidificado na cena.
Resolvi parar de escrever e me dedicar a outra coisa, só nao achei o que ainda.
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